"Minha casa fica em uma esquina e, não raro, pessoas param para conversar. Hoje acordei com uma dessas conversas. Sob minha janela um senhor com opinião sobre tudo monopolizava o “diálogo” com seu interlocutor. Clima, política, vizinhança, família, não havia assunto que não pudesse ser encarrilhado em seu fôlego.
Em psiquiatria existe um termo utilizado para pessoas que falam sem parar: verborragia. Nunca vi termo mais adequado. É uma real hemorragia das palavras e, por coincidência ou não, costuma vir em voz alta. É uma falta de controle, uma falta de freio. Assim, como a hemorragia, é um sintoma que, se não controlado, temo que pode matar. No meu caso, um verdadeiro matador de sonhos.
É no diálogo que mora a relação, que existe a troca. O monólogo é vaidoso. Não conhece empatia.
É necessário perceber o tempo do outro, sua resposta é até seu silêncio. Quem fala demais não enxerga olhar de tédio, não ouve bocejo e nem se atém a inquietação física da vítima que está desesperada para sair correndo ou escorrer pela guia da calçada.
Penso que para viver melhor precisamos da inteligência do silêncio. Silenciar é dar tempo a si mesmo e ao outro para que o mundo todo se acomode e mundo acomodado é mundo macio, confortável, com sentido.
É no silêncio dos amigos que surge a troca de olhares cúmplices, é esse silêncio que precede as gargalhadas.
É no silêncio dos amantes que os olhares conversam e trocam juras de amor. É o silêncio que precede o beijo.
É no silêncio da emoção que não encontramos palavras exatas para descrever o que sentimos, que ficamos embargados e gaguejamos porque as palavras vieram na hora errada.
Mesmo na dor há beleza. Lá dentro, no escuro, no silêncio, na essência de si, no sentido do mundo.
Vou me levantar. O homem ainda fala."
Por Josie Conti